O álcool é uma das substâncias psicoativas mais utilizada na sociedade e um dos principais responsáveis por mortes prematuras e incapacitantes, e por isso mesmo, um dos mais graves problemas de saúde publica nos dias de hoje. Afeta de forma substancial não só o próprio usuário, mas também, seus familiares e pessoas mais íntimas. Também afeta terceiros, de forma indireta, ao provocar acidentes e possíveis tragédias.
De acordo com estatísticas somente no ano de 2002, cerca de 2,3 milhões de mortes prematuras foram causadas pelo álcool, o que representa 3,7% do total de mortes no mundo. Também está associado a quadros de violência, desemprego, e a dificuldade em realizar tarefas habituais de trabalho e convívio social, o que provoca um custo altíssimo para a sociedade como um todo.
Diagnóstico
Para o diagnóstico de síndrome de dependência de substâncias psicoativas é necessário que três ou mais critérios a seguir sejam preenchidos em algum momento, durante o último ano:
1- Forte desejo ou sensação de compulsão para tomar a substância.
2- Dificuldade na capacidade de controle de uso, referente ao início, fim ou quantidade.
3- Síndrome de abstinência.
4- A substância é usada para aliviar sintomas de abstinência.
5- São necessários aumentos de doses para se ter os mesmos efeitos antes produzidos por doses menores.
6- Tendência beber da mesma maneira em dias de semana e finais de semana, a despeito do que seja considerado socialmente aceitável.
7- Abandono de outros prazeres ou interesses em prol da substância.
8- Continuar o uso a despeito de evidência clara de consequências prejudiciais, tais como lesão hepática, perda de emprego, depressão, etc.
Consequências do uso nocivo do álcool
Ao contrário do se imagina, o álcool não auxilia na redução do stress, pelo contrário, os níveis de adrenalina aumentam e, apesar, da pessoa ter a sensação de relaxamento, na verdade seu corpo sofre um estresse adicional.
O uso abusivo de álcool produz reações e consequências para o próprio corpo. Os efeitos no sistema imunológico intensifica o curso de Hepatite C, complica o tratamento para quem possui HIV e a incidência de câncer é a segunda causa de morte em pessoas alcoolistas. O uso nocivo do álcool também pode causar gastrite hemorrágica, pancreatite e cirrose hepáticas. No sistema nervoso central provoca amnésia, déficits cognitivos temporários, inclusive dificuldades de resolução de problemas, de abstração, memoria e aprendizado. O sistema cardiovascular também fica comprometido, com o aumento da pressão arterial, colesterol, riscos de arritmias e cardiomiopatia.
Das mortes atribuídas ao álcool, quase metade são provocadas por afogamentos, queimaduras, intoxicações e quedas; além de atos de violência contra si mesmo ou a outras pessoas. Também se verifica comportamento de risco, seja por dirigir veículos, ou praticar sexo desprotegido.
A violência doméstica em geral também é exacerbada, uma vez que o abuso do álcool induz ao comportamento violento, causa desequilíbrio emocional, redução dos sentimentos de medo e ansiedade e dificulta a tomada de decisões em situações de stress. Os danos à família podem vir de diversas formas, seja pela saúde física e mental de seus membros, seja pelo lado financeiro e social, ocasionando num desgaste nas relações interpessoais.
Muitas mulheres fazem uso do álcool durante a gestação, no entanto, esta pratica pode trazer consequências desastrosas tanto para o feto, como para a gestante, que pode chegar a óbito precocemente, de acordo com pesquisas recentes que constataram um aumento na mortalidade de mulheres que ingeriram bebidas alcoólicas durante a gravidez.
A consequência mais grave e comum é a Síndrome Fetal Alcoólica (SFA), responsável pelo retardamento mental em crianças, além disso, o bebê apresenta baixo peso ao nascer, alterações faciais, déficit neurocognitivos e comportamentais.
Portanto, recomenda-se evitar totalmente o consumo de álcool, não só durante a gestação, mas, também para mulheres que estão tentando engravidar.
É comum o alcoolista sentir-se deprimido ao perceber o dano que fez enquanto estava alcoolizado, principalmente por ter machucado as pessoas mais importantes de sua vida.
Também precisam fazer o luto das coisas que perderam ou destruíram pelo caminho (relacionamentos, posses, etc.), em decorrência de seu comportamento motivado pelo álcool. Os antidepressivos atenuam o quadro depressivo e a psicoterapia ajuda a elaborar as perdas e o sofrimento.
O risco de suicídio entre os alcoolista é de 60 a 120 vezes maior que a de pessoas que não apresentam transtorno psiquiátrico.
O que pode levar uma pessoa a vir a ser um alcoolista resulta de uma combinação complexa entre problemas intrapsíquicos, predisposição genética, influências familiares, contexto cultural e outras variáveis associadas ao meio em que a pessoa vive.
O alcoolista apresenta certas características de personalidade, tais como: regressão emocional, imaturidade, instabilidade, insegurança, ansiedade e fraqueza do ego. Normalmente são tímidos, emocionalmente dependentes, e por isso, alimentam fantasias como fonte de satisfação ou como refúgio de frustrações.
De um modo geral o uso abusivo do álcool funciona como fuga frente a seu sentimento de inadequação, muitas vezes escondido através de ideais de grandeza, perfeccionismo e exibicionismo. Nas relações amorosas permanentes é comum apresentarem dificuldades em assumir responsabilidades.
A vivência da solidão é marcante, e possui raízes na infância, provavelmente, em função da omissão do “outro” em oferecer-lhe amor. O sentimento de solidão é devastador e insuportável devido às frustrações afetivas que destroem suas esperanças.
Na personalidade de alcoolistas a desesperança se funda nos fantasmas de insucessos anteriores e no temor de novas frustrações no presente, sentem-se condenados antecipadamente ao fracasso, pelo fato de seu passado ter mais decepções e desenganos do que conquistas. O sentimento predominante é de tédio e indiferença, no qual se espera nada da vida.
O alcoolista passa a viver estagnado no presente anônimo e passivo, sem perspectiva para o futuro, sem sonhos de prosperidade, o que leva muitos a cometer suicídio. As insatisfações constantes consigo mesmo o conduz para o refúgio no álcool.
O tratamento do alcoolismo feito pelo AA (Alcoólicos Anônimos) tem sido altamente eficaz, e para muitos alcoolistas as modificações psicológicas encorajadas pelo AA e a abstinência associada ao compromisso com seus ideais e frequência regular aos encontros, são um tratamento suficiente.
Entretanto, se os pacientes continuam a beber muito, sem ter a capacidade ou interesse em investigar suas motivações para beber, eles podem não ter a capacidade para fazer psicoterapia, e neste caso, necessitar de hospitalização para que o tratamento seja feito de forma mais eficaz.
Quando falamos em alcoolismo é preciso entender que, o que funciona para um paciente pode não funcionar para outro, e todos os tratamentos envolvem algum tipo de controvérsia. Pesquisas indicam que apenas 26% dos pacientes alcoolistas tratados ainda permanecem em abstinência um ano depois. Portanto, nenhum tratamento é definitivo, necessitando uma cuidadosa avaliação psiquiátrica antes de se iniciar um plano individual de tratamento.
Referências bibliográficas:
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A dependência do álcool ocorre em ambos os sexos, em todas as raças e classes sociais. No entanto, o consumo de álcool tem sido maior em países desenvolvidos. Estudos revelam que os homens consomem mais álcool e causam mais problemas em decorrência do uso. Porém, entre as mulheres cresce o consumo nos casos de “anorexia alcoólica” e estima-se que 16% das pessoas com transtornos alimentares também sofram de dependência alcoólica.
Consequências do uso de álcool na gestação
Aspectos emocionais e psicológicos
Tratamento