A Cocaína e Seus Primórdios: um pouco da história...
A cocaína é um alcaloide natural extraído da planta Erythroxylon coca ou coca boliviana. A planta de coca cresce na forma de arbusto ou em árvores ao leste dos Andes e acima da Bacia Amazônica.
Albert Niemann em 1859 conseguiu isolar o alcaloide a partir das folhas da planta e denominou-o de cocaína. Nos primórdios a cocaína era livremente comercializada e indicada para vários tratamentos devido ao seu efeito analgésico e anestésico, bem como para aliviar sintomas de cansaço e suplemento alimentar.
Freud chegou a publicar um livro “Uber coca” (sobre a coca), em 1884, listando seus efeitos terapêuticos e sua importância para a terapia da depressão. Porém em 1892 ele volta atrás e publica uma atualização de “Uber coca”, retratando tudo o que havia dito anteriormente.
Em 1885 a indústria farmacêutica Parke-Davis, descobre uma maneira de refinar a cocaína e começa apresentar ao mercado diversas formas de consumo, sendo elas na forma de charutos, cigarros, inalantes, soluções, cristais, e até injetáveis. Operando na ausência de leis ou regulamentos que limitassem a venda ou o consumo, a cocaína tornou-se presente em farmácias, mercearias e bares.
A relação estreita do uso de cocaína com a cultura ocidental fica evidente nas produções literárias e em diversas condutas da moda. O romance policial do autor inglês Stevenson teria escrito “Dr. Jekyll e Mr. Hyde” sob efeito da droga, sendo que os dois protagonistas representam com exatidão o fenômeno de dissociação de personalidade em dependentes da substância.
O escritor Arthur Conan Doyle, autor do personagem Sherlock Holmes, era um notório consumidor de cocaína, e em diversos momentos, colocava seu personagem envolvido em problemas decorrentes da droga.
A criação da Coca-cola em 1886, por John Styth Peberton, sendo uma bebida isenta de álcool, utilizava na composição noz de cola e folhas de cocaína, e era consumida pelas classes menos favorecidas para problemas gástricos, dores de cabeça, cansaço, entre outros. Somente em 1906 é que as folhas de coca da formulação original foram substituídas por cafeína e por folhas de coca descocainizadas.
Assim, no início dos anos 20 são relatadas em diversas revistas médicas da época episódios de toxicidade, tolerância, dependência e morte devido ao uso indiscriminado de cocaína.
O surgimento de regulamentações e leis restritivas, como o tratado de Haia (1912), Harrison Act, de 1914, nos EUA, ou o Decreto-lei Federal nº 4.292 de 6 de julho de 1921, no Brasil, tornaram a cocaína menos disponível para a população em geral.
O conhecimento da população sobre os efeitos nocivos da cocaína em grandes quantidades também ajudou no declínio do uso de droga. Além disso, na década de 1930, as anfetaminas e outras drogas estimulantes –mais baratas e com efeitos estimulantes mais duradouros que a cocaína – tornaram-se disponíveis, provavelmente ganhando a preferência de muitos usuários prévios de cocaína. Depois de 50 anos, o mundo depara-se com o ressurgimento da cocaína como uma droga de largo consumo.
No início da década de 70, a cocaína ressurge como a droga de escolha para um suposto uso “recreacional”, pois havia uma crença de que a droga era segura, sem risco de causar dependência. Década de 80 – o consumo de cocaína passa a ser feitos em “binges”, ocasionando o uso abusivo e a dependência. Assim, a maior disponibilidade e a queda dos preços nos últimos anos possibilitaram que essa droga fosse usada abusivamente por um número crescente de pessoas, trazendo consequências assustadoras para a saúde do indivíduo e para a sociedade como um todo.
Referências:
BAHLS, F.C.; BAHLS, S-C. Cocaína: origem, passado e presente. Interação em Psicologia, 6(2), 177-181, 2002.
FERREIRA, P.E.M.; MARTINI, R.K. Cocaína: lendas, história e abuso. Rev Brás Psiquiatr, 23(2), 96-99, 2001.