Sobre o HIV e a AIDS

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No início dos anos 80, surgiu uma nova doença denominada AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) que viria vitimar muitas pessoas e constituir um dos maiores desafios da ciência moderna e a revisão dos conceitos de sexo e morte.


Passamos a assistir várias etapas desta pandemia e uma árdua batalha travada entre a doença e a ciência para encontrar mecanismos de combate a esse mal. O progresso foi grande, muito foi conseguido. Antigamente receber o diagnóstico positivo para AIDS era praticamente uma sentença de morte, hoje em dia, é possível viver com qualidade de vida, desde que se tome a medicação prescrita e siga corretamente as indicações médicas.


De acordo com a Unaids (Programa das Nações Unidas sobre o HIV), o número de pessoas com Aids vem diminuindo no mundo. No entanto, no Brasil o número de casos entre os jovens está em crescimento, o que gera preocupação. Os relatórios mostram um aumento de casos de 53% de 2004 a 2013, em garotos entre 15 e 19 anos .


Ainda assim, os dados são positivos, isto porque, de 2000 a 2014, o número de infecções no mundo caiu 35% e passou de 3,1 milhões para 2 milhões no ano passado. O número de mortes também caiu 41% nesses 15 anos.


O importante é permitir que a maior parte das pessoas tenha acesso aos exames e ao tratamento que diminui a carga viral. Hoje, a estimativa é que 36,9 milhões de pessoas em todo o mundo vivam com o vírus HIV, mas só metade delas, 54% sabem. Desta forma é fundamental fazer o exame o quanto antes e começar a tomar os remédios.


No Brasil, a estimativa é que 734 mil pessoas estejam contaminadas. Desde 1996, todos os remédios contra a doença são de graça e o governo aumentou a distribuição. Antes, recebia o remédio somente quem desenvolvia a Aids ou tinha carga viral muito alta, mas desde 2013 todos os soropositivos tomam o antiretroviral.


Conhecendo  HIV e AIDS



A AIDS é causada por um vírus, o HIV. O HIV é muito frágil e morre rapidamente quando está fora do corpo. Consequentemente, não é contagioso (não pode ser transmitido por contato social habitual) e é transmitido de 4 formas diferentes:


Através de penetração em relação sexual desprotegida (o risco do sexo oral é muito menor).
Através de sangue e derivados de sangue infectados entrando na corrente sanguínea.
Compartilhando agulhas ou seringas, por exemplo, ao injetar drogas.


De mãe para filho antes, durante o parto e aleitamento materno.


O vírus HIV ataca as células de defesa do nosso corpo, o organismo fica mais vulnerável a diversas doenças, de um simples resfriado a infecções mais graves como a tuberculose ou câncer e o próprio tratamento dessas doenças fica prejudicado.

 
Sintomas e fases da AIDS

Quando ocorre a infecção pelo vírus, o sistema imunológico começa a ser atacado. E é na 1ª fase, chamada de infecção aguda, que ocorre a incubação do vírus HIV, que varia de 3 a 6 semanas. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal estar, e por isso, a maioria dos casos passa despercebido.


A próxima fase é marcada pela forte interação entre as células de defesa e as constantes e rápidas mutações do vírus. Mas, que não enfraquece o organismo o suficiente para permitir novas doenças, pois os vírus amadurecem e morrem de forma equilibrada. Esse período, que pode durar muitos anos, é chamado de assintomático.


A próxima fase é a sintomática inicial. Com o frequente ataque, as células de defesa começam a funcionar com menos eficiência até serem destruídas. O organismo fica cada vez mais fraco e vulnerável a infecções comuns. Os sintomas mais comuns são: febre, diarreia, suores noturnos e emagrecimento.


A última fase é a AIDS propriamente dita. A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Quem chega a essa fase, por não saber ou não seguir o tratamento indicado pelos médicos, pode sofrer de hepatites virais, tuberculose, pneumonia, toxoplasmose e alguns tipos de câncer.


Comportamento de risco



A AIDS foi descrita inicialmente em certos grupos de pessoas, por exemplo, homens homossexuais, usuários de drogas injetáveis e haitianos. Isto levou algumas pessoas a identificar a doença como exclusiva destes grupos e se desenvolveu a ideia de grupo de risco para o HIV.


No entanto, pensar em termos de “comportamento de risco” é mais adequado. Não é quem você é, mas o que você faz. Não existem “grupos de risco”, existem apenas “comportamentos ou situações de risco”. O HIV pode ser transmitido unicamente se o vírus existente em fluidos infectados – sangue, sêmen, secreções vaginais – penetrar no sangue de outra pessoa. A forma pelas quais isto pode ocorrer são limitadas, e a maioria envolve tipos de comportamentos específicos.

 
Sexo mais seguro



Depois de infectada a pessoa permanece transmissora pelo resto de sua vida. Em todo mundo, a principal via de transmissão do HIV é a sexual. O sexo mais seguro é uma forma de adaptar sua vida sexual para reduzir o risco de transmitir ou pegar o HIV.


A penetração sexual desprotegida, vaginal ou anal, é a principal fonte de transmissão do HIV. A relação anal desprotegida, seja entre dois homens ou entre um homem e uma mulher, é a atividade de mais alto risco. O reto tem um revestimento mais fraco do que o da vagina e é mais facilmente lesado. Isto pode permitir o acesso do HIV que está no sêmen infectado para dentro do corpo – e saindo do corpo pelo reto para o pênis através de sangue infectado (o sangue pode entrar no pênis através de seu orifício).


A relação vaginal desprotegida com uma mulher infectada é especialmente arriscada para o homem durante o período menstrual da mulher. A transmissão de homem para mulher é duas vezes mais provável do que da mulher para o homem.


Pesquisas mostram que o HIV é mais facilmente transmitido se um dos parceiros tiver uma doença sexualmente transmitida (DST), devido aos ferimentos e úlceras. Caso tenha DSTs como sífilis, herpes genital ou gonorreia, ou mesmo qualquer outra DST, certifique-se de ter o tratamento adequado.


Uso de preservativos

Os preservativos, se usados corretamente, são barreira eficaz contra o HIV quando usados em sexo anal e vaginal. São uma forma barata e confiável de proteção contra o HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis.

 
Sexo oral

A transmissão é teoricamente possível quando sêmen, líquido vaginal ou sangue menstrual entram em contato com a boca, principalmente se houver sangramento gengival, úlceras ou infecções na boca. Se você quer ser realmente seguro, use preservativo ou, material impermeável (como um quadrado de látex que pode ser colocado sobre a vulva) para evitar o contato com o líquido vaginal ou sangue menstrual.

 
Sexo sem penetração

Não existe nenhuma evidência de transmissão de HIV em beijos, lambidas, massagens e masturbação mútua. Acessórios eróticos (como vibradores e pênis de borracha) não devem ser compartilhados. Use um preservativo novo para cada pessoa ou lave o acessório com detergente entre as utilizações.

O risco de HIV deve fazer com que todos nós examinemos nosso comportamento sexual e, se necessário, façamos modificações. Isso não significa o fim do sexo. As pessoas podem ampliar seus horizontes sexuais não baseando apenas na penetração o objetivo do prazer sexual.


Comunicação



A comunicação é fundamental para se ter um sexo seguro. Escolha a hora e o lugar certo para falar sobre sexo com seu parceiro. Será mais útil se não deixar a conversa para quando estiver sexualmente excitado, alcoolizado ou muito cansado. Para algumas pessoas a melhor forma de abordar o assunto pode ser falando sobre um programa TV ou mostrando um artigo. Para outros, a melhor forma é falar diretamente ou através de ações. O mais importante é que você o faça, não espere que seu parceiro entre no assunto, isto pode não acontecer nunca! A responsabilidade é tanto sua quanto de seu parceiro.


O sexo com uma pessoa não infectada é mais seguro, no entanto, não existe nenhuma forma de saber, pela aparência, caráter ou por “conhecer bem” uma pessoa, que um parceiro sexual está livre de infecção pelo HIV. Muitas pessoas podem não saber que estão infectadas. Não se deve confiar em pressentimentos, intuições ou sensações em relação a algo tão sério. A menos que você conheça sua situação quanto ao HIV através de um teste, você não pode estar 100% seguro.


Você pode encontrar um parceiro que não quer usar um preservativo. Alguns homens se queixam de que preservativos reduzem a sensibilidade, são pequenos demais ou que vestir interrompe o ato sexual. Hoje em dia existem vários tipos de preservativos, que permitem mais sensibilidade que os antigos, e que a sensibilidade diminuída significa sexo mais prolongado.


Algumas mulheres acham que carregar preservativos pode fazer com que o sexo pareça premeditado e que elas pareçam “fáceis”. Este é um padrão sexual antigo. Se uma mulher decide ser sexualmente ativa, levar um preservativo é apenas sensato.

Se seu parceiro é contra preservativos, não coopera ou não está interessado, a relação sexual pode não ser uma boa ideia.


Relacionamentos

O sexo é seguro se você e seu parceiro não estão infectados pelo HIV e permanecem estritamente monogâmicos. No entanto, dada a longa latência do vírus, algumas pessoas atualmente em relações monogâmicas de vários anos podem ter adquirido o HIV antes de encontrem seu parceiro atual e desconhecer completamente esse fato. Além disso, pode ser difícil ser totalmente honesto sobre parceiros sexuais anteriores ou uso de drogas. Neste caso, a única forma de garantir é fazer um teste de HIV. Este não é um passo a ser seguido levianamente, devido às sua implicações, mesmo se o resultado for negativo.

A redução do número de parceiros não é sexo mais seguro. A única forma de cortar os riscos de transmissão do HIV é praticar sexo mais seguro com seus parceiros.


Qualquer que seja o tipo de relacionamento que você tem ou teve, é importante DISCUTIR SEXO MAIS SEGURO.


Uso de drogas



Se a pessoa é usuário de drogas injetáveis, é prudente ter seu equipamento de injeção próprio e nunca compartilhar. O risco advém de compartilhar agulhas, seringas e filtros contaminados. O equipamento compartilhado pode fazer parte da “cultura” da comunidade usuária de drogas, mas representa um risco mesmo se compartilhado apenas com amigos íntimos ou parceiros.


Sangue e derivados



A probabilidade de se contrair HIV através de transfusão de sangue é praticamente nulo., porque todo o sangue é examinado. Pessoas que possam ter risco de serem portadoras de HIV são orientadas a não doar sangue. Não existe nenhum risco em doar sangue.


Mãe para filho

O HIV pode ser transmitido da mãe infectada para seu filho antes, durante ou após seu nascimento através do aleitamento materno. Todas as crianças filhas de mães HIV-positivas têm anticorpos anti-HIV recebidos da mãe em seu sangue. Estes podem demorar até 18 meses para desaparecer, mesmo que o recém-nascido não seja portador do HIV. No Brasil estima-se que a chance de uma mãe soropositiva dar a luz a criança também soropositiva sem qualquer tratamento é de 25-30%. Se forem utilizadas drogas especificas contra o HIV durante a gestação este risco diminui para 8%.


Pode haver um pequeno risco de infecção através do leite materno. A orientação atual para mulheres HIV-positivas em países desenvolvidos é que não amamentem seu filho. 


Profissionais de saúde

Apresentam um risco particular de HIV, por aerossóis ou respingos de sangue contaminado ou lesões com agulhas. Na prática, muito poucas pessoas comprovadamente contraíram HIV desta forma.


Outras vias de infecção

Qualquer procedimento que utilize objeto perfurante não esterilizado acarreta um pequeno risco de transmissão de HIV, por exemplo: tatuagem, piercing e acupuntura. Sempre vá a um profissional respeitado e de confiança que use agulhas descartáveis.

O HIV pode ser teoricamente transmitido compartilhando escova de dentes, aparelhos de barbear e alicates de unha. Siga as regras básicas de higiene.


Tratamento


Após receber o diagnóstico da infecção por HIV, o paciente deve marcar uma consulta com um especialista em AIDS. Nessa primeira consulta, o paciente precisa informar a história clínica inicial, tempo de diagnóstico, se já apresentou alguma doença grave e quais são as condições e os hábitos de vida. É bem provável que, na primeira consulta, o médico peça exames, como: hemograma completo (sangue), urina, fezes, glicose (açúcar), colesterol e triglicérides (gorduras), raios-X de tórax, hepatite B e C, tuberculose e os testes de  contagem dos linfócitos T CD4+ (indica o sistema de defesa) e o de carga viral (quantidade de vírus circulante no sangue).


Dependendo do resultado dos exames clínicos e laboratoriais, pode ser necessário que o soropositivo comece a terapia antirretroviral, que é o tratamento com medicamentos. O médico fará o acompanhamento do paciente, que deve voltar regularmente ao consultório no tempo determinado pelos profissionais.


Os medicamentos antirretrovirais surgiram na década de 1980. Eles não matam oHIV, mas, ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico. Para combater o HIV é necessário utilizar pelo menos três antirretrovirais combinados, sendo dois medicamentos de classes diferentes, que poderão ser combinados em um só comprimido. O tratamento é complexo, necessita de acompanhamento médico para avaliar as adaptações do organismo ao tratamento, seus efeitos colaterais e as possíveis dificuldades em seguir corretamente as recomendações médicas, ou seja, aderir ao tratamento.


O uso irregular dos antirretrovirais (má adesão ao tratamento) acelera o processo de resistência do vírus aos medicamentos, por isso, toda e qualquer decisão sobre interrupção ou troca de medicamentos deve ser tomada com o consentimento do médico que faz o acompanhamento do soropositivo. A equipe de saúde está apta a tomar essas decisões e deve ser vista como aliada, pois juntos devem tentar chegar à melhor solução para cada caso.


O tempo de sobrevida (ou seja, os anos de vida pós-infecção) é indefinido e varia de indivíduo para indivíduo. Por exemplo, algumas pessoas começaram a usar o coquetel em meados dos anos noventa e ainda hoje gozam de boa saúde. Outras apresentam complicações mais cedo e têm reações adversas aos medicamentos. Há, ainda, casos de pessoas que, mesmo com os remédios, têm infecções oportunistas (infecções que se instalam, aproveitando-se de um momento de fragilidade do sistema de defesa do corpo, o sistema imunológico).


Aspectos psicológicos



A maioria dos transtornos psicológicos que afetam os pacientes com HIV são decorrentes do impacto frente ao diagnóstico e as dificuldades para enfrentar a doença.


A discriminação social e preconceitos sofridos podem afetar diversas áreas de sua vida, como a escolar, trabalhista, esportiva, hospitalar, familiar, securitária, etc. e passou a servir de instrumento de exclusão social para essas pessoas.


É comum estes pacientes apresentarem sentimentos de revolta, desespero, apatia, depressão, culpa, medo, rejeição. Essas reações podem ser trabalhadas e minimizadas com a ajuda de um psicólogo que poderá ajudar esses pacientes a reverter aspectos desfavoráveis em energia para o enfrentamento da doença.


Também é fundamental o apoio familiar no intuito de ajudar na adesão e envolvimento ao tratamento e evitar por parte dos doentes qualquer abuso que possa prejudicá-los. O fortalecimento emocional é um importante fator na qualidade de vida e uma adaptação positiva, uma vez que permite a convivência e o controle dessa doença, que apesar de ser crônica e não ter cura deixou de ser sinônimo de morte para seus portadores.


Referências Bibliográficas:

Manual de prevenção DST e AIDS, vol.1, 1998; Divisão de Clinica de Moléstias Infecciosas e Parasitárias – HC- FMUSP. 

Portal sobre AIDS, doenças sexualmente transmissíveis e hepatites virais; Ministério da Saúde (WWW.aids.gov.br). 

Kubler-Ross E., Life Lessons, 2000.